sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Pólo siderúrgico em Mato Grosso do Sul intensifica ameaça ao Cerrado e ao Pantanal

Impactos sociais, ambientais e econômicos negativos é o mais provável de se obter com os planos de instalação de um pólo siderúrgico no Mato Grasso do Sul. O prognóstico é do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo. Por solicitação da ONG Conservação Internacional, a FGV elaborou estudo inédito sobre os recursos da região para sustentar o projeto industrial. O documento não deixa dúvidas: trata-se de um cenário de insustentabilidade ambiental.

O estudo constatou que o Mato Grosso do Sul não tem o estoque de madeira legal necessário para alimentar os altos-fornos de ferro-gusa (matéria-prima do aço) que estão para ser instalados nas usinas. Movidas em grande parte a carvão vegetal, essas unidades pressionarão ainda mais uma realidade já conhecida na região: o desmatamento do Cerrado e Pantanal, e o contrabando de madeira de países fronteiriços como Paraguai e Bolívia.

O objetivo das indústrias que atuam na região é triplicar sua produção no ano que vem. Se em 2007 foram produzidas 283 mil toneladas de ferro, a meta para 2009 é chegar na casa das 825 mil toneladas.

Para alimentar esses fornos, no entanto, será necessário pelo menos o dobro de área de floresta plantada disponível no Mato Grosso do Sul. "Já não há hoje árvores plantadas suficientes para atender ao mercado. A implementação do complexo minero-siderúrgico aumentará ainda mais a pressão sobre as áreas nativas, impactando de forma considerável a manutenção da biodiversidade", afirma André Carvalho, da FGV.

O estudo mostra que, em 2007, havia cerca de 148 mil hectares de florestas plantadas no Mato Grosso do Sul - quase nada se comparados com os 490 mil hectares de pinus e eucaliptos dos anos 70. Desse volume, após a destinação para a indústria de celulose e demais setores da economia local, sobram apenas 30 mil hectares de florestas plantadas, com árvores em diferentes estágios de crescimento.

Para 2014, estima-se serem necessários 63 mil hectares de florestas plantadas em nome da preservação de espécies nativas do Pantanal e do Cerrado. "E não haverá essa área", alerta Carvalho, após dois anos de estudo e entrevistas in loco . "A menos que o governo crie um modelo de produção sustentável de carvão", afirma o pesquisador.

O Mato Grosso do Sul tem sua economia baseada principalmente na dobradinha soja e gado e, em nome desta cultura, promove uma verdadeira devastação ambiental. A exploração das reservas de minério de ferro e a implantação da indústria do aço prometem causar danos ainda maiores.

De janeiro a agosto de 2007, a Polícia Militar Ambiental estadual divulgou ter fechado 104 carvoarias sem autorização em quatro municípios. No Paraguai, atribui-se a contrabandistas brasileiros, associados a produtores de carvão vegetal, a responsabilidade por parte da devastação. E pegaram muito carvão sem origem comprovada. "O Paraguai tem florestas e as siderúrgicas vão comer tudo", diz Inácio Santos, agente do Ibama que participou de operações conjuntas com a Polícia Federal na fronteira.

O complexo minero-siderúrgico de Mato Grosso do Sul (CMS-MS), concentra-se na cidade de Corumbá e é formado pelas empresas Mineração Corumbaense Reunida (MCR), subsidiária do Grupo Rio Tinto; EBX/MMX; Mineração Pirâmide e a Companhia Vale do Rio Doce.

Serviço

Leia mais sobre o assunto na página da Conservação Internacional.

Leia também o estudo completo, publicado na 6ª edição da revista científica da CI-Brasil Política Ambiental.

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