quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Lançada a Câmara de Juventude Rural

Organizações discutem o papel da comunicação para o Meio Rural

Brasília, 29/7/08 (IICA)


O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Fórum DRS e a Rede de Fortalecimento Institucional do Jovem Rural lançaram, ontem, 28 de julho, a Câmara de Juventude Rural, em Brasília, com o debate do tema: O Papel da Comunicação para o Meio Rural. O encontro reuniu representantes das organizações que formam a Rede, funcionários do IICA, do Banco do Brasil, do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Nead/MDA), da Embrapa-Transferência Tecnológica e da Embrapa Informação e Tecnologia. Célio Roberto Turino de Miranda, secretário de programas e projetos culturais do Ministério da Cultura, apresentou a experiência do Programa Cultura Viva, que, desde 2004, implanta Pontos de Cultura, no Brasil, com o objetivo de valorizar a cultura local de diferentes povos espalhados pelo país. "Esta parceria entre Estado e sociedade civil chamamos de Ponto de Cultura. A comunidade recebe a quantia de R$ 185 mil reais, divididos em cinco parcelas semestrais, para investir em projetos de desenvolvimento da cultura local. Atualmente, há mais de 650 Pontos de Cultura espalhados em todo o território brasileiro", ressaltou Torino. O secretário-executivo destacou a iniciativa Vídeo nas Aldeias, uma das ações do Programa voltada para a comunidade indígena. "As aldeias recebem um equipamento de multimídia e são capacitadas a fazer suas próprias produções. Desde 1998, o Programa vem promovendo oficinas de formação de realizadores entre os índios, tendo ao todo ministrado 56 delas, trabalhando com 93 alunos de 29 povos", contou. Mário Salimon, coordenador de comunicação do IICA, falou dos desafios da comunicação intra e entre instituições. Para Mário a comunicação que as instituições precisam não deve ser apenas aquela que busca o desenvolvimento, mas também o envolvimento. Ele destaca a Câmara como importante instrumento para o diálogo. "A criação da Câmara é uma oportunidade de envolvimento de organizações que vêm promovendo encontros, intercâmbios e outras situações de comunicação que vão colaborar para um processo de aprendizagem e avanço", disse. Câmara de Juventude Rural Ao final do evento, Luiz André Soares, do Instituto Souza Cruz, apresentou os antecedentes da Câmara de Juventude Rural (CJR). "É uma iniciativa que tem a tarefa de viabilizar um ambiente propício ao fortalecimento das organizações que se dedicam a esse foco de atuação, gerando aprendizado interinstitucional e sinergia entre as experiências distribuídas pelo país", afirmou. O diretor-executivo do Fórum DRS, Carlos Miranda, apresentou aos participantes as iniciativas do Fórum DRS e o site que será o ponto de encontro dos interessados na temática da Câmara. Ao final do encontro, Marcos Marques, assessor de imprensa do Instituto Souza Cruz, apresentou a décima edição da Revista Marco Social, editada pelo Instituto. Nesta edição, a publicação mostra algumas ações que estão sendo empreendidas para a democratização do acesso à informação e cultura no campo brasileiro, por meio de entrevistas e reportagens que desenvolvem o tema Comunicação e Cultura no Campo.


Conheça a Câmara de Juventude Rural, no link:

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Cooperativa Grande Sertão vai a campo escutar sabedoria popular

“Aprendi tudo isso com o passar dos anos, plantando, colhendo e observando”. Assim diz o Sr. Olegário Rocha, morador da Comunidade Cova de Mandioca, em Porteirinha, quando se refere orgulhoso ao desenvolvimento de suas plantações. E foi atrás desses conhecimentos desenvolvidos ao longo do tempo que agricultores cooperados e técnicos da Cooperativa Grande Sertão foram à campo,no último dia 15 (segunda) para conhecer de perto as experiências que os agricultores vêm desenvolvendo com as produções de oleaginosas.

Para Nilton César, que é agricultor, cooperado e mobilizador do projeto do Biodisel na Agricultura Familiar, é importante conhecer de perto o trabalho dos agricultores e agricultoras, conhecer e ouvir falar um pouco das experiências que eles desenvolvem. Ele cita o exemplo do Sr. Olegário, que há mais de 30 anos planta a variedade de mamona. “Não se pode deixar de escutar o conhecimento da cultura que ele tem”, diz o agricultor.

Com 78 anos, Sr. Olegário, com uma conversa “ligeira”, conta os “causos” com orgulho das coisas que faz. Ele diz que planta uma variedade de semente crioula de mamona, que o cacho chega a 1,20 metro de comprimento, e depois da limpeza das sementes chegam a pesar 600 gramas. Pai de 18 filhos, ele e sua esposa Dona Joana, conservam práticas de seus antepassados. Plantam culturas consorciadas e utilizam o engenho de cana construído por ele mesmo, dentre outras coisas. Ele orientou: “para plantar cana, a muda tem que ser nova”, e conclui: “assim é a natureza, ou você já viu mulher velha dar filho?”.

José Leles Neto, diretor-presidente da Cooperativa Grande Sertão, diz que valoriza o intercâmbio de saberes, pois um tem a teoria e o outro a prática. ”O técnico aprende com o agricultor e o agricultor aprende com o técnico”, explica.

Na região de Porteirinha, a Cooperativa Grande Sertão é articuladora e responsável pela inserção da produção de oleoginosas no sistema de agricultura familiar. O plantio é voltado principalmente para o produção de biodiesel, e funciona em parceria com a Petrobrás.


(Helen Borborema - Comunicadora Popular - STR Porteirinha-MG)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Cerrado: um grito de socorro

Dia 11 de setembro é o Dia Nacional do Cerrado. Obviamente, a comemoração não é uma atitude pertinente nos dias atuais. A constante destruição do bioma brasileiro é uma das causas dos principais problemas sócio-ambientais do país, embora pouca gente saiba disso.

Existem dois grandes responsáveis pela devastação: a pecuária extensiva e a monocultura intensiva, geralmente, voltada para exportação. Cerca de 26.000 km² do bioma desaparecem a cada ano, dando lugar ao agronegócio. O chamado “desenvolvimento” está escancarado, dentro de nossas casas, nas escolas, na mídia. Um “desenvolvimento” que gera êxodo rural, fome, extinção. "Essa questão do ataque do agronegócio está deixando o cerrado em estado de calamidade". A opinião de Braulino Caetano dos Santos – sócio-fundador e diretor geral do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, não é apenas um dos muitos indicativos dessa realidade, é um grito de indignação. "O bioma está desaparecendo e levando tudo o que tem nele, inclusive o povo", diz. Atualmente, cerca de 80% do bioma está parcialmente, ou totalmente, depredado.

Cientificamente, o Cerrado é caracterizado como a savana que possui mais biodiversidade no mundo, além de abrigar milhares de tribos indígenas, quilombos e populações tradicionais. Infelizmente, até isso tem os dias contados. Estudos revelam que, caso a degradação ambiental continue em ritmo acelerado, a estimativa é de que este bioma será totalmente extinto em meados do ano de 2030. Cedo demais para quem ainda não percebeu que o limite há muito foi ultrapassado, e esperar mais para agir não é uma opção.

Dados como estes deveriam ser o bastante para gerar a mobilização da sociedade, de entidades ligadas à preservação ambiental e das próprias populações remanescentes. Mas o impasse é maior do que se pensa. A luta pela defesa do Cerrado ainda é tímida, e está aquém do ritmo de crescimento do agronegócio, movido pelos sistemas político e econômico do país e do mundo. Apesar das centenas de iniciativas de fomento da convivência com o Cerrado e uso sustentável dos recursos naturais, a importância desse bioma ainda é desconhecida pela maioria dos brasileiros. O Cerrado está em 15 estados nacionais, abrangendo mais de 11 mil espécies vegetais, a maioria utilizada no agroextrativismo, que é a principal fonte de renda para milhares de famílias.

A preocupação com essa realidade, originou uma proposta de inclusão dos biomas Cerrado e Caatinga como patrimônios nacionais, a exemplo da Mata Atlântica, da Floresta Amazônica e do Pantanal Matogrossense. Mas a emenda constitucional, conhecida como PEC 115/95, já tramita no Congresso há 13 anos, resultado da inércia política com relação à proteção de um bioma que abriga um terço da biodiversidade nacional. Se o ritmo continuar o mesmo, é bem provável que a proposta seja aprovada tarde demais. “Eles querem ouvir o nosso grito. Agora é hora de sair e gritar. Porque do jeito que está, não dá pra ficar mais”, afirma Braulino.