segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Aumenta o número de índios trabalhando nos canaviais do Mato Grosso do Sul


A história contada nas escolas para justificar a implantação do trabalho escravo no Brasil, durante a colonização, é que os índios eram preguiçosos, desobedientes e não queriam saber do trabalho duro. Pois hoje, no Mato Grosso do Sul, são eles que pegam pesado nos canaviais, desempenhando trabalho que os não-índios descartam.

Segundo o Ministério Público do Trabalho, já são cerca de 13 mil o número de índios que empregam sua força de trabalho nos canaviais situados nos arredores de Dourados. São quase todos guarani, habitantes das aldeias Jaguapiru e Bororó.

Na opinião do procurador Cícero Pereira, a busca da mão-de-obra indígena deve-se sobretudo ao desinteresse de outros grupos: "Os não-indígenas não querem saber do trabalho dos canaviais, que é pesado e considerado de segunda categoria". A alternativa dos usineiros seria importar mão-de-obra do Nordeste ou de Minas. "Mas eles evitam isso, por causa do custo do transporte e porque os trabalhadores daquelas regiões são mais organizados e se mobilizam em casos de superexploração", continua o procurador. "Os índios suportam melhor as pesadas jornadas nos canaviais e são tidos como trabalhadores menos exigentes".

A incidência de trabalho escravo nos canaviais não é um fenômeno raro. No ano passado, foram encontradas cerca de 1600 pessoas em condições análogas à escravidão – na maioria indígenas. Elas foram resgatadas por fiscais do Ministério do Trabalho e por uma comissão permanente de investigação das condições de trabalho, que envolve diversas instituições como sindicatos, associações e universidade.

As ONGs que atuam na defesa de interesses indígenas também alertam: com a maior disponibilidade de empregos, cai o nível de mobilização e de reivindicação dos índios por mais terras. Segundo o historiador Antonio Brand, coordenador do Programa Guarani-Caiuá da Universidade Católica Dom Bosco, de Campo Grande, a maior parte dos problemas sociais que eles enfrentam em Mato Grosso do Sul está relacionada à falta de terras.

"Desde o início do século 20, eles estão sendo confinados à força em pequenas reservas. Isso inviabilizou sua estrutura social, organizada por laços de parentesco, e deu origem aos conflitos internos, alcoolismo, violência, uso de drogas, suicídios", diz o historiador. "Agora, no momento em que esse grupo se encontra tão debilitado, lhe oferecem a possibilidade de trabalho nos canaviais, o que pode enfraquecer a luta pela demarcação de novas terras."

Para os índios, que na maioria dos casos vivem dos programas públicos de distribuição de renda, as usinas são vistas como alternativa para melhorar seu padrão de vida. Muitos trabalham um período no canavial, retornam à aldeia, para tocar lavouras de subsistência, e depois pedem a recontratação.

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