quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Desmatamento do Cerrado contribui para o aquecimento global

Em Audiência Pública da Comissão Mista Especial de Mudanças Climáticas, realizada ontem (11), Dia do Cerrado, a ecóloga e professora da Universidade de Brasília, Mercedes Bustamante afirmou que o desmatamento do Cerrado contribui para o aquecimento global. A maior parte desse desmatamento se deve à conversão das matas nativas em pastos e monocultivos de soja, cana-de-açúcar e eucalipto.

Mas, segunda a professora, é possível conciliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental, por meio da regularização ambiental. A professora explicou que a alteração da cobertura vegetal - para a pecuária, plantio de grãos e de cana-de-açúcar - facilita a liberação do carbono presente no solo e aquece o ar, já que não há o resfriamento do ar quente em trocas com a copa alta das árvores. Apesar de o Cerrado ser sumidouro de carbono no período chuvoso, se torna fonte de carbono durante a seca, especialmente devido aos incêndios florestais. Dessa forma, avaliou a especialista, é preciso controle e monitoramento do desmatamento e das queimadas. A especialista afirmou ainda que a produção de cana-de-açúcar também aumenta as emissões de óxido nitroso (N2O), outro gás de efeito estufa, produzido a partir de fertilizantes nitrogenados.

Outro ponto que, para Bustamante merece atenção, é a produção bovina. Os animais liberam em seu processo digestivo o gás metano, e uma partícula de metano é 25 vezes mais potente do que uma molécula de CO2, para causar o efeito estufa. O total emitido pelo rebanho bovino em um ano é semelhante ao CO2 produzido por 36 milhões de veículos de passeio no mesmo período - revelou.

Para diminuir esses efeitos, o representante da organização não-governamental The Nature Conservancy (TNC), Carlos Klink, ressaltou que a atividade agrícola precisa ser considerada parte do ecossistema para conciliar o uso da terra, os benefícios econômicos gerados a partir disso com a preservação ambiental. É possível conciliar agricultura e conservação com a promoção da regularização ambiental e melhores práticas - defendeu Klink. Para exemplificar, citou o caso de Lucas do Rio Verde, MT, primeiro município a promover a regularização ambiental ao se adequar ao Código Florestal, com a determinação de reservas legais. A partir do cadastro e diagnóstico das propriedades rurais, é possível adequar as áreas de produção às áreas de preservação permanente (APPs) e reservas legais, por exemplo. Com isso, destacou, há redução de custos, cria-se um ambiente de cooperação e se abre à possibilidade de exportação para mercados mais exigentes, como o europeu, que valoriza iniciativas como o selo verde.

A secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Maria Cecília Wey de Brito, citou estudo elaborado pelo professor José Antônio Marengo, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe), que destaca a realidade do aumento da temperatura no mundo. No Brasil, ela se elevou 0,7ºC nos últimos 50 anos. Com a continuação do fenômeno, disse, haverá "aridização" do semi-árido e mais secas na região tropical ou amazônica, e o aumento de temperatura até 2100 deve chegar a quase 6ºC na parte mais norte do país. Em todo o Brasil, a média de temperatura deve aumentar em torno de 3º a 4º C. - Hoje, a média é de vinte e seis graus centígrados - afirmou. Como conseqüência disso, prevê o estudo, ocorrerá expansão da deficiência hídrica no país e aumento das condições precárias para os ecossistemas brasileiros.

fonte: Agência Senado

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